segunda-feira, 26 de abril de 2021

Bywar, e seu legado no thrash metal nacional.



A proposta não era genial ou inovadora. O plano nunca foi esse. Espalhadas por vários cantos do planeta, outras bandas também ensaiavam algo parecido e, com o tempo, tal retomada foi se alastrando de forma gradual. No Brasil, o Bywar ganhou um pouco depois a companhia de Blasthrash, Farscape e Violator, que, juntos, se tornaram os quatro grandes pilares do revival thrash nacional. Um fenômeno que, de época em época, acontece com inúmeros gêneros e rende bons frutos por um determinado período, mas que, naturalmente, tende a ficar saturado.

No dia 11 de dezembro de 2013 chegou ao fim a trajetória do Bywar. Depois de 17 anos na linha de frente do thrash metal old school, a banda anunciou o encerramento das atividades. Adriano Perfetto (guitarra e vocal), Hélio Patrizzi (baixo) e Enrico Ozio (bateria) - além dos guitarristas Victor Regep e Renan Roveran, que se alternaram na formação - deixam um legado bastante interessante de quatro álbuns de estúdio - sendo pelo menos dois deles excelentes - e alguns splits. A seguir, mergulhamos nessa discografia tentando dissecar cada um dos trabalhos. Confira!

Invincible War (2002):


Invincible War demorou seis anos para sair, mas rapidamente provou que o longo tempo de espera valera a pena. Após uma única demo - The Evil's Attack (1998) -, o Bywar estreou em 2002 com um full lenght bastante inspirado. Enquanto nomes como Blasthrash, Farscape e Violator ainda estavam nos trabalhos preliminares, o quarteto paulista lançou, pela Hate Storm Records, o que foi seu primeiro disco oficial e instaurou o revival thrash metal aqui no Brasil. Retomando a estética oitentista tanto no som como na identidade visual, o Bywar chamou a atenção por apresentar um thrash calcado na velha guarda do gênero, principalmente na escola alemã de nomes como Kreator, Destruction e Sodom, que, por volta da mesma época, também orquestravam, ainda que sem a mesma sonoridade, uma espécie de resgate moral com Violent Revolution (2001), The Antichrist (2001) e M-16 (2001), respectivamente. Só que, ao contrário do clássico trio germânico, que até teve algumas boas ideias, a banda brasileira conseguiu imprimir algo tão ou mais importante: espontaneidade. As composições são curtas e urgentes como costumam ser em toda estreia thrash. Ainda assim, são bem trabalhadas e contam com passagens criativas, sobretudo no que se refere aos riffs de Adriano Perfetto e Victor Regep. A bateria de Enrico Ozio aposta alto na simplicidade e no arroz com feijão, o que quase sempre vale muito mais do que firulas desnecessárias. A produção, feita no Da Tribo por Tchelo e Ciero, não confere tanto peso ao som, mas deixa tudo bastante audível e com um timbre bem bacana. Diversificadas, as linhas vocais também merecem destaque e ajudam a fisgar a atenção de quem ouve. No fim das contas, Invincible War é thrash metal nu e cru. Justamente por isso é tão bom. Um trabalho simples e que certamente recebe por aí a pecha de datado, mas que, em 2002, surgiu como um grito de resistência ao marasmo da cena metal da época, bem como ao trajeto errante do thrash na segunda metade da década de 90. 

Heretic Signs (2005):


Três anos se passaram e tudo que já era bom em Invencible War (2002) ficou ainda melhor em Heretic Signs. O segundo álbum mostra um Bywar que evoluiu a passos largos e chegou a um alto nível de composição. As melhores músicas da trajetória de 17 anos da banda se encontram neste play. São elas: "The Twin of Icon", em primeiro lugar, e "Heretic Signs", em segundo. Os riffs, como de costume, são o destaque e se apresentam muito mais cortantes. Mais do que na estreia e mais do que em qualquer um dos dois trabalhos seguintes. Estão afiados como lâmina, assim como a execução quase que impecável de cada uma das onze faixas. Os vocais de Adriano Perfetto também trazem significativa melhora e roubam a cena em determinados momentos. Até a bateria está mais ousada, com Enrico Ozio usando blast beats de forma muito bem encaixada em passagens certeiras. Heretic Signs, no entanto, viveu uma espécie de novela até finalmente ser lançado. As gravações, mais uma vez a cargo de Tchelo e Ciero, foram concluídas em janeiro de 2004. Só que a Hate Storm Records fechou justamente nessa época, e o Bywar ficou sem selo para soltar o novo disco. Além disso, o guitarrista Victor Regep, que participara do processo de composição e das gravações, se desligou da banda poucos meses depois. O substituto, Renan Roveran, até não demorou a ser definido e em maio já estava integrado à formação. O álbum, por sua vez, só saiu em 2005, quando do acordo que fez com que o quarteto, recém-reformulado, passasse a fazer parte do cast da Kill Again Records, de Brasília. Tantos problemas, contudo, não ofuscaram em nada a imensa qualidade de Heretic Signs, que até hoje ocupa o louvável posto de melhor trabalho do Bywar. Sem sombra de dúvidas, é também um dos grandes discos de thrash lançados por uma banda brasileira depois do ápice do gênero, nos anos 80. Em 2015, completa uma década. E segue imbatível. 

Twelve Devil's Graveyard (2007):


O disco mais fraco do Bywar. Não por ser um trabalho de todo ruim, mas por ficar bem abaixo da média da banda. É o que tem as composições menos marcantes, o que, por consequência, o deixa um tanto quanto derivativo no geral. Sem a inspiração de outrora, a estrutura das músicas parece se repetir e ser apenas requentada em algumas das doze faixas, número de certa forma até exagerado. Se as boas ideias fossem condensadas e melhor desenvolvidas em oito ou nove canções, talvez o resultado pudesse ser mais positivo. De qualquer forma, a produção, dessa vez feita por Ciero e Trek, também não ajuda tanto e, às vezes, até joga contra. Há momentos em que as guitarras ficam emboladas e há certa saturação no vocal, seja com o uso excessivo de reverb ou de efeitos e backing vocals equivocados. O fato a ser mais lamentado, porém, recai sobre a bateria, pouco agressiva. Além disso, alguns solos são inseridos nas músicas com volume totalmente desproporcional aos riffs da guitarra base. Ainda assim, há passagens bacanas e bem interessantes, como no single "Face the Impaler", que mostra o Bywar apostando em uma proposta um pouco diferente em relação a alguns aspectos dos álbuns anteriores. É em Twelve Devil's Graveyard que a banda escancara sua predileção por uma temática pouco usual e um tanto quanto singular, ao menos no thrash metal: ufologia, eventos e teorias extraterrestres, vórtices e fenômemos paranormais. O nome do disco remete a um artigo do biólogo e escritor escocês Ivan T. Sanderson intitulado The Twelve Devil's Graveyards Around the World, publicado em 1972 e que discute justamente a tese da existência de doze áreas geográficas responsáveis por episódios misteriosos de morte e desaparecimento de um grande número de pessoas. O mais notável seria o Triângulo das Bermudas. O álbum foi o segundo e último a sair pela Kill Again. Ainda em 2007, a banda deixou a gravadora.

Abduction (2011):


Esqueça o Bywar que você conhecia até então. Ou pelo menos boa parte dele. Entre 2007 e 2011, muita coisa deve ter acontecido na trajetória desta banda de São Caetano do Sul, pois o quarteto exibe uma faceta sonora um tanto quanto distinta em Abduction. Quatro anos foram suficientes para Adriano Perfetto, Hélio Patrizzi, Enrico Ozio e Renan Roveran sacudirem a poeira, repensarem possíveis descuidos em Twelve Devil's Graveyard (2007) e retornarem revigorados com um novo trabalho. O quarto álbum marca a maior mudança sonora vista no Bywar enquanto o mesmo esteve na ativa por 17 anos. Obviamente, o que se ouve é 100% thrash metal e com a tradicional pegada old school. No entanto, com um leque de opções vastamente ampliado. A latente influência de Kreator, Destruction, Sodom e da escola alemã como um todo se faz presente, mas com o acréscimo de um senso melódico exorbitante para os padrões da banda até então. Muito dele oriundo de ensinamentos do Iron Maiden e da NWOBHM, das guitarras gêmeas faiscantes e de um maior cuidado com solos, licks e arranjos. O álbum é mais heterogêneo e variado, mas tão agressivo e matador quanto os dois primeiros. A essa altura, o Bywar já fazia parte do cast de uma nova gravadora: a tradicional Mutilation Records, de São Paulo. A opção de mudar a produção e gravar com Brendan Duffey e Adriano Daga no Norcal fez bem ao grupo, que obteve, talvez, sua melhor sonoridade de estúdio. A evolução no peso e na brutalidade da bateria é simplesmente gritante. A temática que começara a ser talhada anteriormente é levada às últimas consequências. Vide o nome do disco - abdução. A única ressalva é que o play perde um pouco do fôlego na reta final e não mantém exatamente o mesmo pique do início. Todavia, nada que comprometa. Ao término da audição, fica o pesar da sensação de que, caso não tivesse encerrado as atividades, o Bywar se daria muito bem em trabalhos futuros, quando poderia explorar ainda mais a fundo esses novos caminhos e possibilidades. Pena que não tenha dado tempo. Mas o legado deixado já é explêndido.


Mais Referências:

Além dos álbuns de estúdio, o Bywar lançou também quatro splits: Violent War (2005), com o Violator, Booze Brothers Vol. 1 (2008) e Thrashing War (2008), ambos com o Witchburner, e Two Shots of Thrash Metal, com o Crucifier. Nenhum conta com músicas autorais inéditas. Os mais recomendados são Violent War, por ter como bônus um cover bacana para "Metalized Blood", dos alemães do Desaster, e Thrashing War, pela química com os parceiros do Witchburner.


Ouça Bywar nas principais plataformas streaming:

https://open.spotify.com/artist/1SGbWlLzYn77ohELf8a3cv?si=9yISIDp3S2mJt2yQtTOplw&utm_source=copy-link

2 comentários:

  1. Parabéns ao blog por manter vivo a história do.nosso metal. Precisamos de mais blogs assim. Ótima matéria.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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