sexta-feira, 21 de maio de 2021

Resenha- Grave Miasma “Abyss of Wrathful Deities”.

Esquece ornamentos poéticos, atmosferas idílicas, floreios ou suavizações de qualquer espécie, a descida rumo ao inferno é rude, amarga e violenta. Não há intervalos para arrependimentos ou preces por salvação, apenas a queda livre rumo ao pálido esquecimento, aos abraços do enxofre e outros vapores. Todavia, há um alívio, a banda-sonora meticulosamente elaborada pelas entidades infernais. Se Dante Alighieri soube tão bem explanar sobre o ambiente dos nossos futuros e eternos sofrimentos, assim como coube a Gustave Doré ilustrá-lo, aos Grave Miasma restou a tarefa de dar-lhe sons – tão ou mais grotescos do que as abominações narradas pelo primeiro e tornadas em imagens pelo segundo. “Abyss of Wrathful Deities” é justamente isso, a banda-sonora para ida e também para nossa longa estadia no inferno.

Com três EPs cujas composições tangem a perfeição ao homogeneizar a estética obscura e profana do black metal e a agressividade técnica do death metal (“Exalted Emanation” de 2009, “Realm of Evoked Doom” de 2010 e “Endless Pilgrimage” de 2016), há entre eles um artefacto precioso lançado em 2013 – uma ode à putrefação, o abissal LP “Odori Sepulcrorum”. Em 2021, o trio londrino regressa com novo álbum e com uma sonoridade que, em simultâneo, se mostra renovada, ainda que característica e fiel à proposta da banda, também revelando-se saudosista, algo que de maneira alguma é mau. Conceba-se um monumento cujos pés estão no presente, mas os olhos estão voltados ao passado. “Abyss of Wrathful Deities” é esse monumento, esse colossal e obscuro monumento.

Mantendo a produção nas mãos de Jaime Gomez Arellano, sendo este o terceiro trabalho da banda a ter a sua assinatura e embalando o mesmo sob a interpretação visual do brasileiro Pedro Felipe aka Ars Moriendee, o disco mostra ao longo de seus nove temas que os Grave Miasma deixaram, pelo menos momentaneamente, as atmosferas e demais recursos antes muito utilizados de lado. É mais directo, assertivo, menos adornado e mais centralizado no death metal. Entre as composições temos apenas um respiro adequadamente intitulado “Interlude”. As demais resumem-se a violência, insanidade, técnica e intensidade. “Guardians of Death”, “Rogyapa”, “Ancestral Waters” e “Erudite Decomposition” são demostrações reais e assombrosas de todo o poder destrutivo que a banda é capaz de criar e de distribuir, não apenas nelas mas em todos os 53 minutos em que a audição se prolonga. Sobre as restantes faixas, nada a declarar – prosseguem agressivas, sinistras e cáusticas. Vide “Exhumation Rites” e “Kingdoms Beyond Kailash”.

“Abyss of Wrathful Deities” é, por fim, uma obra altamente relevante no tempo actual – exibe uma certa dose de novidade, mas alinha-se ao clássico. Um curvar em respeito ao tradicional que é demonstrado por riffs bem construídos, solos e ambientações que parecem saídos de um disco seminal dos 90s, e uma bateria que se revela inteligente, conseguindo ainda ser rudimentar e espontânea. Estamos não perante a um artefacto obrigatório mas diante dum altar em que o death metal nas suas condições mais puras e definidas é devidamente exaltado. O precipitar rumo aos abismos infernais há muito que não é tão prazeroso e triunfal. Um dos lançamentos mais notáveis do ano, sem dúvidas!

Tracklist: 

1.Guardians of Death

2. Rogyapa

3. Ancestral Waters

4. Erudite Decomposition

5. Under the Megalith

6. Demons of the Sand

7. Interlude

8. Exhumation Rites

9. Kingdoms Beyond Kallash

Referências: 

https://www.facebook.com/gravemiasma



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